Saudade amenizada

Detenta encontra a filha que só reconhecia por foto

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Mãe e filha estavam separadas há seis anos

Até as 9h15min desta sexta-feira, Gisele*, que só reconhecia a filha por foto pode vê-la depois de seis anos. Márcia*, que embora veja a filha aos sábados, parecia ter perdido a noção de tempo e espaço ao abraçar a criança e chorar ininterruptamente por minutos.

Gisele e Márcia estão presas e só conseguiram ter uma dia na companhia das meninas porque participaram da 10ª edição do Projeto Inspira. A iniciativa visa proporcionar às detentas o convívio por um dia com seus filhos fora do ambiente prisional.

- A cada ano evoluímos e rompemos preconceito - afirmou o delegado da Polícia Federal e um dos idealizadores do projeto, Getúlio Jorge de Vargas.

As filhas de Gisele e Márcia estão sob a guarda das avós. Os pais de ambas as crianças também estão presos.

- Eu tenho vergonha dela pelo que fiz, mas meu amor não é menor. Não teve um dia que eu não pensasse nela. Vi ela com dois aninhos, ela já está com oito. Meu medo era um dia sair da cadeia e minha filha nem saber quem é a própria mãe.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Projeto completou 10 edições

Para Márcia, ter um filho por perto equivale ao Álvara de Soltura.

- Conto os minutos para ver minhas filhas, não importa se faz uma semana ou um mês. Trocaria comida, cama pela presença delas. Esse é o meu Alvará de Soltura. O momento mais difícil é a hora de dormir, quando eu dava boa noite e sentia o cheirinho deles (três filhos).Eu ainda posso contar com minha sogra, que cuida bem deles e traz eles para eu ver aos sábados. Tem mãe ali no presídio que só encontram seus filhos no dia do projeto, às vezes, uma vez por ano ou nem isso.

CONDENADAS COM OS FILHOS

A iniciativa é desenvolvida pela Delegacia de Polícia Federal de Santa Maria em parceria com a 2ª Delegacia Penitenciária Regional (2ªDPR), Presídio Regional de Santa Maria e com o setor técnico da casa prisional da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe). Também tem apoio da Brigada Militar, Polícia Civil, Exército Brasileiro, Universidade Federal (UFSM) de Santa Maria e demais voluntários. A empresa Sulclean auxilia com o serviço de segurança do evento.

Assista ao vídeo:


Têm prioridade as detentas em regime fechado e que apresentam bom comportamento. O delito cometido não interfere na seleção de quem pode participar do projeto. Até sexta-feira, cerca de 80 mulheres estavam encarceradas em Santa Maria. Nesta edição, participaram 10 mães e 20 crianças com idade entre 3 e 14 anos.

VÍNCULO

- Após os eventos, ouvimos críticas desconstrutivas de que tentamos achar um benefício para a presa, e que ela deveria ter pensado no filho antes (do criem). Porém, a gente investe no vínculo familiar porque, às vezes, é justamente pelos filhos que elas entraram no crime e porque partiram para o tráfico para poder sustentá-los. Ver os filhos no dia do projeto também acaba sendo um dia de reflexão para que elas questionem "se valeu à pena" - relata a psicóloga do Presídio Regional, Renata Cauduro.

Ricardo Lozza, titular da promotoria de Justiça da Infância e da Juventude acrescenta:

- Como o afastamento da sociedade e de tudo o que teve, para o apenado, o vínculo com a família é o mais importante. Influencia na reeducação (do detento).

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style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Participaram crianças de 3 a 14 anos

O projeto não se reduz a um dia e tem atividades com as crianças do projeto ao longo do ano. Conforme a psicóloga, os filhos das detentas têm acompanhamento médico, psicológico e odontológico por meio da Pró-Reitoria de Extensão da UFSM. No dia da confraternização, as mães podem receber atendimento com cabeleireiros e maquiadores.

O desenvolvimento do projeto é viabilizado pela destinação de verbas oriundas de penas alternativas (acordos extrajudiciais) por parte da Vara de Execuções Criminais de Santa Maria.

*Nomes são fictícios para preservar a entidade das crianças

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

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